sábado, 30 de agosto de 2008

Em defesa do Estado laico

Já tem tempo que não ando por aqui... mas algo me moveu hoje.

Estava com a Zero Hora dominical nas mãos e ali encontrei algo que realmente me chamou a atenção, tanto que transcrevo na integra o texto do jornalista Marcos Rolim, que descreveu com imensa propriedade a questão da laicidade do Estado, na teoria e diante da constituição o Estado é laico simmm, mas como está a prática??? Creio que não vai muito bem das pernas, como dizem os gaúchos...

Mas aí vai o artigo:

Em defesa do Estado laico
Marcos Rolim (jornalista)

Lembram de Vílma Martins Costa, a mulher condenada por ter sequestrado uma criança (Pedrinho) em Goiânia, há al­guns anos? Semana que passou ela obteve liber­dade condicional, o que foi objeto de matérias em vários jornais do país. Um fato, entretanto, não chamou a atenção dos jornalistas e, prova­velmente, da maioria dos leitores: o juiz Éder Jor­ge, da 4a Vara Criminal daquela cidade, ao fixar as condições a serem observadas na condicional, determinou que a apenada "frequente igrejas de formação cristã".
Chamando a atenção para o "detalhe", Daniel Sottomaior, do Observatório da Imprensa, assi­nalou que: "Se você leu isso e não se assustou, ao menos ao ponto de se engasgar e cair da cadeira, então um de nós dois tem um problema. Um de nós acha que os juizes de Direito podem se com­portar como se o Estado fosse confessional, e o outro não. Um de nós vê a 'formação cristã' como fonte natural, universal e inquestionável de mo­ralidade - talvez a única -, o outro não. Um de nós sabe que a laicidade do Estado está profun­damente ligada à de­mocracia, e que está expressa no artigo 19 da Carta Magna, o outro não. Um de nós sabe o que são garantias constitucionais como liberdade de consciência e crença, o outro não”.
O tema é impor­tante demais para ser ignorado pela mídia e diz respeito à necessidade de enfrentar a ameaça à democracia representada pelo avanço do fundamentalismo religioso. Outro dia, a Co­missão de Educação e Cultura da Câmara dos De­putados aprovou projeto de lei que obriga o poder público a colocar um exemplar da Bíblia em cada biblioteca do país. Antes disso, aqui mesmo no RS, vereadores de Entre-Ijuís aprovaram uma lei que torna obrigatória a leitura da Bíblia nas esco­las do município. A pergunta, primeira, então é: onde estão nossos liberais? E aquela turma sem­pre preocupada em denunciar as estratégias de doutrinação de nossas crianças pelo comunismo internacional? Nada a dizer sobre as tentativas de doutrinar crianças por uma religião? Ensinar "luta de classes" não pode, mas que tal explicar às crianças passagens como a de Números, 31, vers. 17 e 18? Ali o texto sagrado afirma: "Agora então mate todos os machos mesmo as crianças pe­quenas, e mate toda mulher que tenha conhecido homem e deitado com ele, mas todas as donzelas que não conheceram homem e deitaram com ele, reservem-nas vivas para vocês mesmos".
Bem, talvez devêssemos cuidar para que livros assim só fossem vendidos para maiores de 18 anos. Seja como for, obrigar alguém a ler a Bíblia ou qualquer outro livro religioso é pretensão li-berticida e inconstitucional diante da qual todos deveriam se horrorizar. Assim, se os vereadores de Entre-Ijuís e os nobres deputados da Comis­são de Educação sonham com madraçais, deve­riam passar um tempinho nos países islâmicos onde se doutrinam crianças na palavra de Deus. Aproveitando a viagem, poderiam conversar com familiares de vítimas e sobreviventes do terroris­mo. Teriam, então, uma idéia do que madraçais costumam produzir.
(Zero Hora, pág. 16 / 31 de agosto de 2008)

Ceci n'est pas une pipe

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