sábado, 26 de setembro de 2009

Yoga - primeira fase

Há três anos travei contato com um modo especial de ver e viver a vida.

Hoje sinto-me parte de um universo que propõe e preza a qualidade de vida, o bem-estar através de um conjunto de técnicas e conceitos.

Esse modo de ver a vida, que envolve uma deliciosa revolução comportamental, é denominado Método DeRose.

Mas o que é esse Método?

Bem, que fale o Mestre:


O QUE É O MÉTODO DeROSE


É da natureza humana querer compreender as coisas e, para isso, tentamos enquadrá-las em escaninhos já estabelecidos em nossa mente. Não é à toa que “enquadrar” e “escaninho” são conceitos associados a algo quadrado e padronizado.

Portanto, é natural que o interlocutor queira saber se é dança, ginástica, arte, terapia, filosofia… Mas e se não se “encaixar” em nenhuma das alternativas?

Quando um praticante pretende explicar o que é o Método, frequentemente é confrontado com a pergunta:

– Método de quê?

Ora, se alguém lhe disser que está praticando método Pilates você perguntaria “método de quê?” Certamente, não. Mesmo que você nunca o tenha praticado e não saiba nada a respeito dele. É o nome da coisa e pronto. Originalmente, era o nome do seu criador.

No entanto, para que as pessoas compreendam melhor o que é o Método e, dessa forma, possam desfrutá-lo em todas as suas nuances, decidimos prestar estes esclarecimentos.

Para tanto, a primeira coisa a conhecermos deve ser sua definição. Apesar de este Método ter sido sistematizado a partir de 1960 e, portanto, já contar com meio século, o processo foi bem gradativo e empírico. Assim, dispomos de várias definições muito boas, mas nenhuma delas era a oficial até 2009.

Podemos definir esta cultura como:

Método DeRose é uma urdidura entre conceitos e técnicas, oriundas de tradições culturais muito antigas.

Ou de forma mais extensa:

O Método DeRose é uma proposta de estilo de vida com ênfase em boa qualidade de vida, boas maneiras, boas relações humanas, boa cultura, boa alimentação e boa forma. Algumas das nossas ferramentas são a reeducação respiratória, a administração do stress, as técnicas orgânicas que melhoram o tônus muscular e a flexibilidade, procedimentos para o aprimoramento da descontração e da concentração mental. Tudo isso, em última instância, visando à expansão da lucidez e ao autoconhecimento.

Listando por tópico, facilita a compreensão:

• uma proposta de life style;

• com ênfase em boa qualidade de vida;

• boas maneiras;

• boas relações humanas:

• boa cultura;

• boa alimentação;

• boa forma;

• reeducação respiratória;

• administração do stress;

• as técnicas orgânicas;

• tônus muscular;

• flexibilidade;

• concentração e meditação;

• a consequência final é o autoconhecimento.



Você encontra muito outras definições no Blog do Mestre
http://www.uni-yoga.org/blogdoderose/

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Insatisfação: A sementinha do mal

Círculo Vicioso - Machado de Assis

Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
"Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
que arde no eterno azul, como uma eterna vela!"
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:


" Pudesse eu copiar o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!"
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:


"Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade mortal, que toda luz resume!"
Mas o sol inclinando a rútila capela:


"Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Porque não nasci eu um simples vaga-lume?"

Outro dia ao reler esse soneto machadiano que retrata a tão constante insafistação, vício humano presente em todos os meios de sua ação, lembrei de um texto do meu querido Mestre DeRose que está no seu livrão (saiba que essa definição não se deve somente ao seu tamanho físico mas ao seu conteúdo excepcionalmente completo e absolutamnte necessário para quem conhece, para quem diz conhecer e para os querem conhecer o Yôga).

Esse texto fala sobre o descontentamento...o título é uma reação a esse modus vivendi: Não seja um descontente.

O Mestrão diz assim:

"Observe que raríssimas são as pessoas que estão satisfeitas com seus mundos. Em geral, todos tem reclamações do seu trabalho, dos seus subalternos e dos seus superiores; da sua remuneração e do reconhecimento pelo seu trabalho; reclamações dos seus pais, dos seus filhos, dos seus cônjuges, do seu condomínio, do governo do seu País, do seu Estado, da sua cidade, da polícia, da Justiça, do departamento de trânsito, dos impostos, dos vizinhos mal-educados, os motoristas inábeis, dos pedestres indisciplinados... Quanta coisa para reclamar, não é?"

Afffffffff....

Assim o desespero, o desânimo, a insatisfação tomam conta das vidas, dos sentimentos, dos pensamentos e das AÇÕES humanas...

Mas o que fazer?
Que tal seria converter esse círculo vicioso e um círculo virtuoso?

"A solução não é reclamar das pessoas e das circunstâncias para tentar mudá-las e sim EDUCAR-SE A SI MESMO PARA ADAPTAR-SE. A atitude correta é parar de querer infantilmente que as coisas se modifiquem para satisfazer ao seu ego, mas sim MODIFICAR-SE A SI MESMO PARA AJUSTAR-SE À REALIDADE. Isso é maturidade."

"Vamos aceitar as pessoas e as coisas como elas são. E vamos tratar de gostar delas. Você vai notar que elas passam a gostar muito mais de você e as situações que antes lhe pareciam inamovíveis, agora se modificam espontaneamente, sem que você tenha de cobrar isso delas. Experimente. Você vai gostar do resultado!"

Vai mesmo!!!!

Mude seu foco, altere sua maneira de perceber a realidade. Você constrói seu próprio mundo, aprenda a amá-lo e mude o que pode ser mudado. Comece descruzando os braços, parando de se lamentar e agindo!

"Há os que se queixam do vento. Os que esperam que ele mude. E os que procuram ajustar as velas". William G. Ward


"Lamento em ti, não tuas penas, mas as tuas lamentações". DeRose 


DeRose. Tratado de Yôga. Não seja um decontente. SP: DeRose Editora, 2007, p.723-724.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera


"Se a Revolução Francesa devesse repetir-se eternamente, a historiografia francesa se mostraria menos orgulhosa de Robespierre. Mas como ela trata de uma coisa que não voltará, os anos sangrentos não são mais mais que palavras, teorias, discussões - são mais leves que uma pluma, já não provocam medo. Existe uma enorme diferença entre um Robespierre que não aparece senão uma vez na história e um Robespierre que voltasse eternamente cortando as cabeças dos franceses"


"O mito do eterno retorno nos diz, por negação, que a vida vai desaparecer de uma vez por todas, e que não mais voltará, é semelhante a uma sombra, que ela é sem peso, que está morta deste hoje, e que, por mais atroz, mais bela, mas esplêndida que seja, essa beleza, esse horror, esse esplendor, não tem o menos sentido"


"No mundo do eterno retorno, cada gesto carrega o peso de uma insustentável leveza. O eterno retorno é o mais pesados dos fardos. Então, nossas vidas, sobre esse pano de fundo, podem aparecer em toda sua esplêndida leveza"


"Será atroz o peso e bela a leveza?

Na poesia amorosa de todos os séculos, a mulher deseja receber o peso do corpo masculino. O fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da mais intensa realização vital. Quanto mais pesado o fardo mais real e verdadeira é nossa vida."


"Parmênides - 6º século A.C. - Segundo ele, o universo está dividido em duplas de contrário: luz e escuro, grosso e fino, ser e não-ser, quente e frio. Considerava que um dos pólos da contradição é positivo (claro, quente, fino, ser), o outro, negativo. Parece pueril. Mas o que é positivo, o peso ou a leveza? Para ele seria o leve o positivo, e o pesado negativo. Teria razão? Essa é a questão. Uma coisa é certa. A contradição pesado-leve é a mais misteriosa e ambígua de todas as contradições"


"Tudo é vivido uma vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas do que pode valer a vida, se o primeiro ensaio já é a própria vida? É isso que faz com que a vida pareça sempre um esboço, No entanto, mesmo "esboço" não é a palavra certa, porque um esboço é sempre um projeto de alguma coisa, a preparação dum quadro, ao passo que o esboço que é nossa vida não é o esboço de nada, é um esboço sem quadro."


"Einmal ist keinmal, uma vez não conta, uma vez é nunca. Não poder viver uma vida é como não viver nunca."


Se a filha do faraó não tivesse tirado das águas a cesta do pequeno Moisés, não teria havido o Velho Testamento e toda a nossa civilização. Se Pólipo não tivesse recolhido o pequeno Édipo, Sófocles não teria escrito sua mais bela tragédia... "


"Metáforas são perigosas. Não se brinca com as metáforas. Um amor pode nascer de uma simples metáfora"
"O sono compartilhado é o corpo de delito do amor"


"Todas as línguas derivadas do latim formam a palavra compaixão com o prefixo com e a raiz passio, que originalmente significa sofrimento . Em outras línguas, por exemplo em tcheco, em polonês, em alemão, em sueco, essa palavra se traduz por um substantivo formado com um prefixo equivalente seguido da palavra sentimento (em tcheco: SOUCIT; em polonês: WSPOL-CZUCIE; em alemão: MITGEFÜHL; em sueco: MED-KÄNSLA).


Nas línguas derivadas do latim, a palavra compaixão significa que não se pode olhar o sofrimento do próximo com o coração frio, em outras palavras sentimos simpatia por quem sofre. Uma outra palavra tem mais ou menos o mesmo significado: piedade (em inglês: PITY; em italiano: PIETÁ, ...), sugere mesmo uma espécie de indulgência em relação ao ser que sofre. Ter piedade duma mulher significa sentir-se mais favorecido que ela, é inclinar-se, abaixar-se até ela.


É por isso que a palavra compaixão inspira, em geral, desconfiança; designa um sentimento considerado de segunda ordem que não tem muito a ver com amor. Amar alguém por compaixão não é amor de verdade.


Nas línguas que formam a compaixão não com a raiz passio: sofrimento mas com o substantivo sentimento , a palavra é empregada mais ou menos com o mesmo, mas dificilmente pode se dizer que ela designa uma sentimento mau ou medíocre. A força secreta da etimologia banha a palavra com uma outra luz e lhe dá um sentido mais amplo: ter compaixão (co-sentimento) é poder viver com alguém sua infelicidade, mas também é sentir com esse alguém qualquer outra emoção: alegria, angústia, felicidade, dor. Essa compaixão (no sentido SOUCIT, WSPL-CZUCIE, MITGEFÜHL, MED-KÄNSLA) designa, portanto, a mais alta capacidade de imaginação afetiva - a arte da telepatia das emoções. Na hierarquia dos sentimentos, é o sentimento supremo."


"Em trabalhos práticos de física, qualquer aluno pode fazer experimentos para verificara a exatidão de uma hipótese científica. Mas os homens, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer um sentimento"


"Aquilo que não é consequência de uma escolha, não pode ser considerado como mérito ou fracasso. Diante de um condição imposta é preciso encontrar a atitude certa"


"Viver significa ver. A visão é limitada por uma dupla fronteira: a luz intensa e a escuridão total. Os extremos delimitam a fronteira para além da qual a vida termina, e a paixão pelo extremismo, em arte como em política, é um desejo de morte disfarçado"


"SE ALGUÉM PROCURA O INFINITO BASTA FECHAR OS OLHOS"


Todos nós temos a necessidade de ser olhados. Podemos ser classificados em 4 categorias, segundo o tipo de olhar sob o qual queremos viver.


1º: procura o olhar de um número infinito de pessoas anônimas, ou seja, o olhar do público. Para este, ninguém pode substituir o olhar das pessoas desconhecidas.


2º: aqueles que não podem viver sem ser o foco de numerosos olhares familiares. São incansáveis organizadores de coquetéis e jantares, mais felizes do que os da 1ª categoria, que quando perdem seu público imaginam que a luz apagou na sala de suas vidas. É o que acontece a todos, mais dia menos dia. As pessoas da segunda categoria sempre conseguem arrumar quem as olhe.


3º: aqueles que tem necessidade de viver sob o olhar do ser amado. A situação destas pessoas é tão perigosa quanto a daqueles da 1ª categoria. Basta que os olhos do ser amado se fechem para que a sala fique mergulhada em escuridão.


4ª: mais rara, a daqueles que vivem sob o olhar imaginário dos ausentes. São os sonhadores."



"Deus encarregou o homem de reinar sobre os animais, mas podemos explicar isso dizendo que ele apenas emprestou ao homem esse poder. O homem não era proprietário mas apenas o gerente do planeta, e um dia teria de prestar contas de sua gestão"


Noites Brancas - Fiódor Dostoiévski



"Hoje o dia esteve triste, chuvoso, sem luz, como a minha futura velhice. Fui assediado por estranhos pensamentos, sentimentos turvos, questões ainda obscuras para mim, comprimiam-se dentro do meu cérebro, sem que eu tivesse força ou vontade para solucionar. Não, não seria eu quem poderia resolver tudo isso."

"Como a alegria e a felicidade tornam belas as pessoas! Como o amor enche o coração! Quando nos sentimos felizes, parece-nos que o coração vai transbordar para o coração do ente amado. Queremos que todos estejam alegres, que todos se riam. E como é contagiosa essa alegria!"

"Quando estamos infelizes, sentimos com maior violência a infelicidade dos outros; sentimento não se destrói, concentra-se..."

"Além disso, vivo sempre as coisas com muita violência."

"Todas as criaturas escutam com alegria qualquer consolação e se sentem felizes por encontrar a mínima sombra de justificação"

"Porque não somos todos uns para os outros como irmãos e irmãs? Porque razão mesmo o melhor dos homens tem sempre qualquer coisa a esconder a outro e se cale diante dele? Porque não dizer francamente, à vontade, o que está no coração, quando se sabe que não se falará em perda? Pelo contrário, todos se dão ares de serem mais ferozes do que o são na realidade..."

"MEU DEUS!!!
UM MINUTO INTEIRO DE FELICIDADE!
AFINAL NÃO BASTA ISSO PARA ENCHER A VIDA INTEIRA DE UM HOMEM?..."

Sim!!!!

Por Márcia Roos

VIDA... hoje e deste momento em diante eu juro:
Aceitar-te, amar-te e idolatrar-te por todos os meus dias...



Vida, eu te aceito, e contigo vou por onde me levares.


Enquanto comigo estiveres não te abandonarei, degustar-te-ei a cada vão momento, fazendo-o doce, sublime, tornando cada momento de meu existir uma ode em reverência a ti...


De momento sérios e formais, alegres e descontraídos saborear-te-ei como quem aprecia um doce fruto maduro e suculento, apaixonar-me-ei por ti repetidas vezes e amar-te-ei infinitamente, gozando-te em múltiplas expressões de prazer e satisfação, fazendo de minha existência uma homenagem em constância e pertinácia a ti.


Ahhhhh!!! Entre os que torcem os narizes, farejando a vibração, percebendo vontade de vida, há os vivem, que pulsam e sentem... Há os que aproveitam-se de si mesmos, usam-se como se fossem perfumes franceses exalando-se aos narizes dos que quiserem sentir cheiro de V I D A, em sua mais pura essência.


Há aqueles que cruzam arco-íris pulando amarelinha em suas cores, vibram a energia de cada uma delas ... Há os que ficam cinza diante de manifestações de vida... Ahh, mas que afável é os que colorem vidas, a dos outros e suas próprias... com uma habilidade surrealista, impressionista, impressionante de representar o viver.


Àqueles que se empolgam tanto com o viver a todo momento, fazendo de todo segundo motivo de profunda comoção, profundo sentir,ao fazer de suas existências obras de arte, obras de riso, obras de vida... o meu profundo respeito! Pois comungamos de um mesmo objeto de encanto e adoração: a VIDA! E com ela nos envolvemos em um enlace, em bodas de eterna ventura...


Bem-aventurados aqueles que seduziram a VIDA e deixaram-se seduzir por ela, porque a eles pertence o AQUI e AGORA!




Carpe Diem,

Márcia Roos

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

You can make a diference

Gostei do vídeo, da ideia de que podemos fazer diferença se assim quisermos... Para mudar as coisas muito pode ser feito... Quer mudar o mundo? Comece por você!!!

Movimente-se!!! Ação é o segredo...

Corpo e pecado... Delas


Por Márcia Roos
O desconhecido, ou o não compreendido, é, ou pelo menos foi por muito tempo, gerador de medo, de apreensão e de repulsa, como também de curiosidade e de tentativas de explicações concernentes ao nível de conhecimento mágico ou científico alcançado em determinada época. Assim, o corpo feminino viu-se, durante a história exposto aos mais diversos tratamentos derivados do conhecimento (masculino) que se tinha deste corpo e das conseqüentes interpretações feitas com base nesse conhecimento.

O termo misoginia – designa o sentimento masculino, ou pelo menos, a representação do ponto de vista de uma sociedade masculina, diante da mulher – relaciona-se aos tratamentos documentados sobre mulher e deriva do grego miso – que odeia – e gunê – mulher, isto é, aquele que odeia, tem aversão à mulher, ao feminino.

As raízes desse medo (ou aversão) são uma invenção que nos remete a períodos que antecedem ao cristianismo. Judeus e gregos já a temiam, tanto que para estes foi ela que cometeu o primeiro pecado, ou abrindo a urna de todos os males ou comendo do fruto proibido. “Pandora grega ou Eva judaica” [1]: uma mulher, como a responsável perfeita pela desgraça humana diante de um mundo masculino, androcêntrico.

A mulher com seu corpo, com seus mistérios, sua ligação com a geração da vida, sua relação com o ciclo humano, fizeram dos homens seres temerosos diante do que eles não compreendiam e não tinham acesso. As mulheres sempre estiveram presentes em todos os acontecimentos vinculados ao ciclo biológico, cabia a elas o primeiro e o último contato com os corpos, os cuidados com recém-nascidos, com os doentes e os mortos[2].

Assim, era preciso “neutralizar a magia feminina” [3], pois era ela que tinha o poder sobre a vida e conivência com a natureza. Dessa forma, sujeitar a mulher seria dominar o caráter perigoso que se atribui à sua impureza fundamental e à sua força misteriosa[4].

“Feminino” e “mulher”, mais do que simples designações para um gênero, são conceitos em que cabem todo um discurso masculino misógino, ou no mínimo, antifeminino. “Feminino” deriva de Femina procedente de Fe e minus[5], pois ela tem e conserva menos fé. E o termo “mulher” teve sua origem derivando de mulier que remete à mollitia, relacionado à fraqueza, à flexibilidade, à simulação[6] próprias da essência e conduta femininas, nesse discurso.

Foi tida como mal magnífico, venenosa, enganadora, teve seu corpo cercado de predicados pejorativos[7] diante de sua personalidade e fisiologia. A impureza, o perigo advindo dos corpos produzia repulsa. Mas ao mesmo tempo e paradoxalmente era admirada, exercia atração e fascínio. Portanto, o que prevaleceu foi uma história escrita e preservada por homens, ou seja, uma narração do que é da mulher. Assim, ela é um ser negativo e poluidor em seus atos e em seu corpo.

Foi sobre o feminino que recaiu o horror pelo corpo e o desprezo pelo sexo. O corpo da mulher foi tratado como lugar da “eleição do diabo”, sendo esse corpo um obstáculo ao exercício da razão com que o homem via-se obrigado a se unir pelo casamento; apesar de ele mesmo pensar que era quase “impossível sair-se puro do abraço conjugal” [8]. A mulher era vista com um mal necessário para a produção de descendentes saudáveis, e apenas para isso.

Tal situação, da mulher como mera procriadora, aparece em muitas sociedades, em que ela contraía núpcias somente para ser um receptáculo à semente masculina. Saía da casa do pai, seu primeiro dono, e ia para casa de seu marido para oferecer-lhe descendentes, e o melhor para ela é que fossem saudáveis. Seus filhos – seus únicos frutos bons – precisavam ser saudáveis ou seriam sacrificados, em uma sociedade, ou noutra, as mulheres seriam estigmatizadas como pecadoras.

Esse corpo estereotipado é lugar de ódio e desprezo no universo escatológico cristão. É sobre ele que toda a ira divina recai. O mito do pecado original, o pecado de orgulho intelectual, o de desafio intelectual ao Deus-homem, são transformados pelo cristianismo em pecado sexual[9].

Assim, o mítico pecado de Adão e Eva significou também um pecado de orgulho intelectual. A mulher, dotada de intelecto dado pelo Deus bíblico, depois dos esclarecimentos oferecidos pela serpente, chegou à conclusão de que seria mais vantajoso comer do fruto do que seguir as ordens divinas que limitavam sua visão. O comer do fruto abriria seus olhos e teria assim conhecimento do que é bom e do que é mau.

Dessa forma, o ato de comer o fruto proibido configurou-se em desafio intelectual ao Deus-homem que foi transformado em pecado sexual mais tarde. O resultado imediato da desobediência do casal recém-criado foi a abertura de seus olhos, seguida da vergonha da nudez: “abriram-se então os olhos de ambos e começaram a perceber que estavam nus” [10].

O castigo divino foi executado em seus corpos. As dores de parto na mulher, o desejo ardente da mulher pelo homem, a dominação dele e o fato de que o homem somente comeria pão a partir do trabalho árduo exercido pelo seu corpo[11].

Esse arquétipo cristão é uma das bases em que se assenta o pensamento ocidental sobre os corpos. E é sobre o corpo feminino que recaem as pesadas representações que ancoram a mulher em lugares e funções específicas. Construções de natureza e essências femininas deixaram-na a parte do público, das decisões sobre a sociedade e sobre si.

A mulher ideal é representada como silenciosa, maternal, dotada de um corpo frágil e de uma languidez intelectual que a faz apta para cuidar dos filhos, da casa, dos doentes. Um corpo docilizado pelas lides domésticas. Corpo domesticado, enclausurado no universo privado. Sorriso discreto, boca calada, cabelos cobertos como signo de sua inferioridade e eterna submissão.

Isto é, “seja bela e cale a boca” como no conselho recebido pelas moças casadoiras nos séculos XVIII e XIX[12]. O que torna realmente interessante tudo isso é que tal representação agradou tanto os sentidos masculinos que ainda no século XX eram notados seus reflexos. Os dedicados colunistas pasquinianos demonstram que fizeram a lição de casa quando o assunto é mulher e o que ela representa. Quando Mônica Hisrt, a novata jornalista, recém chegada ao Pasquim, é apresentada aos leitores, a trupe do Pasquim mostra seu aprendizado, e diz que a moça “é muito bonitinha de maneira que não precisava saber escrever”[13].

Essa pérola da misoginia pasquiniana é um bom exemplo de como certas lições são bem aprendidas. Mas, ao contrário dos desejos de enclausuramento, também aprendidos com as gerações passadas, apesar de não precisarem saber escrever, elas escreveram, assim como nem todas mocinhas casadoiras se calaram. É a mulher e seu corpo em outros caminhos.

Michele Perrot[14] defende a idéia de que o corpo está no centro de toda relação de poder e, de maneira imediata e específica, o corpo das mulheres é o próprio centro. Diante disso, uma perpétua suspeita instala-se sobre sua aparência, sua beleza, suas formas, suas roupas, seus gestos, sua maneira de andar, de olhar, de falar e de rir. Nesse discurso, toda mulher em liberdade é um perigo e, ao mesmo tempo, está em perigo; se algo de mau lhe acontece, ela está recebendo apenas aquilo que merece.

Afinal, quantas mulheres foram consideradas culpadas pelas violências que sofreram. Se ela foi agredida pelo marido, algo fez para merecer; se foi violentada sexualmente, deve ter provocado ou ter andado por lugares em que chamou a atenção e se expôs em demasia.
Nesse sentido, o corpo feminino necessita de proteção, pela sua fragilidade e também pelos perigos que sua sexualidade representa. Então a mulher fechada em casa foi, por muito tempo, o local mais natural para ela, aliás, a casa representa seu habitat natural, o locus de sua atuação e de sua função verdadeira: a procriação.

Sobressai-se nas representações femininas fortes descrições naturalistas e essencialistas, que transformam discursos e práticas sociais em verdades quase irrefutáveis. Mas, neste como em qualquer contexto histórico, não se pode perder de vista o que é uma representação.
Segundo Roger Chartier as representações do mundo social são sempre determinadas pelos interesses de grupos que as forjam sendo que as percepções do social não são neutras, pois elas produzem estratégias e práticas que tendem a impor uma autoridade à custa de outros, por elas menosprezadas, a legitimar um projeto reformador ou a justificar, para os próprios indivíduos, as suas escolhas e condutas.
[15]

Neste sentido, conforme Ana Maria Colling[16], as representações da mulher impuseram ao feminino uma natureza, uma essência, uma feminilidade inata à mulher. Ou seja, de tanto historicizar a mulher imputando-lhe características próprias, únicas e intransferíveis, vê-se uma natureza feminina forjada. Em concordância, Céli Pinto, demonstra isso ao afirmar que “inventamos histórias, inventamos sujeitos, inventamos o homem, inventamos até uma natureza necessária, para podermos negar nossas invenções”[17]

Ao se optar pela idéia de natureza feminina, desconsidera-se o processo de construção de um discurso que delimita o que uma mulher pode fazer, o que deve fazer e onde deve estar. Ou como elucida Colling, “no momento em que se designa uma ‘natureza feminina’, retira-se o caráter de construção do discurso que imputa à mulher funções, papéis, e comportamentos e, ao mesmo tempo, a transforma em mera espectadora de uma situação que parece imutável” [18]. E nessa aparente imutabilidade residem as permanências, que são reflexos de antigas representações que mantém suas influências ao longo dos tempos.

[1] DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente: 1300-1800. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 314.
[2] QUINTANEIRO, Tania. Retratos de Mulher: O cotidiano feminino no Brasil sob o olhar de viageiros do século XIX. Petrópolis: Ed. Vozes, 1995, p. 152.
[3] DELUMEAU. Loc. cit., p. 314.
[4] Idem.
[5] NOGUEIRA, Carlos Alberto Figueiredo. Bruxaria e História. As Práticas Mágicas no Ocidente Cristão. São Paulo: Ática, 1991, p.106. DELUMEAU. Op. cit., p. 327. Cf. KRAMER, Heinrich; SPRENGER, James. Malleus Maleficarum: O Martelo das Feiticeiras. RJ: Ed. Rosa dos Tempos, 2001, p.117.
[6] MACEDO, José Rivair. A Mulher na Idade Média. SP: Ed. Contexto, 1999. p. 21. Também diz o Malleus que “o vocábulo mulher é usado para indicar a lascívia da carne”. Op. cit., p. 125.
[7] Entre eles podemos destacar definições para as mulheres como: “decaídas”; “animal imperfeito”, mais rápida em vacilar”, “mentirosa por natureza”, “bonita de se olhar”, mas “contamina pelo contato”, e é “mortal para se manter”. BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. São Paulo: IMAGO, 2001, p. 128.
[8] NOGUEIRA. Op. cit., p. 104.
[9] LE GOFF. Op. cit., 1983, p. 59.
[10] Gênesis 3:6-7.
[11] Gênesis 3:16, 17.
[12] PERROT, Michele. As mulheres ou os Silêncios na História, SP: EDUSC, 1998, p. 10.
[13] O Pasquim, n°23, 11 a 17/12/1969, p.24.
[14] PERROT. Op. cit., p. 447.
[15] CHARTIER, Roger. A História Cultural. Entre Práticas e Representações. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil, 1990, p. 17
[16] COLLING, Ana Maria. A Construção da Cidadania na Mulher Brasileira – Igualdade e Diferença. Tese de doutorado, 2000, p. 178
[17] In COLLING, 2000, p. 178.
[18] Idem.
Imagem: "Crucified Woman" do cartunista nova-iorquino Erik Drooker

terça-feira, 14 de julho de 2009

Fat Old Sun


"Fat Old Sun"
Lançado:10 de outubro de 1970
Gravado: Agosto de 1970
Gênero: rock progressivo
Duração:5:24

"Fat Old Sun" é uma canção da banda de rock progressivo Pink Floyd, de 1970, escrita e cantada por David Gilmour. Ela apareceu no álbum Atom Heart Mother e foi apresentada ao vivo em uma forma expandida (na maioria das vezes excedendo 14 minutos), tanto antes, quanto depois do álbum ser lançado. Atom Heart Mother foi lançado em 10 de Outubro de 1970, e as apresentações ao vivo datam desde 16 de Julho daquele ano.

Performance Ao Vivo
No palco Fat Old Sun era transformada da balada folk para uma grande Jam de rock. Como na gravação, Gilmour começa com um solo de blues depois do último refrão. Ao invés do 'fade out' que existe na versão gravada, Gilmour vai se silenciando gradualmente. Então o órgão de Rick Wright entra com a melodia da frase "Sing To Me", fazendo com que cada acorde soe duas vezes mais longo do que a versão da voz. Então Nick Mason entra com improvisações na bateria usando só o chimbal e os tambores. Rick Wright começa um solo sobre o acorde de Sol menor e de Ré menor. Nick Mason muda para um ritmo de rock comum depois de um tempo. A banda pára e Gilmour começa uma nova sequência de acordes com um estilo de Jazz (D menor E 7 #9 A 7 #9). Wright toca um segundo solo em um estilo de blues. A banda fica cada vez mais silenciosa e Gilmour começa a cantar o primeiro verso de novo. As apresentações Ao vivo sempre acabavam com a parte do "Sing to me, sing to me...". Um bom exemplo pode ser ouvido no show do John Peel de setembro de 1971.
Recentemente, ela foi tocada de um modo acústico na turnê David Gilmour in Concert (2001/2002), menos o solo de guitarra. Depois, no começo da turnê do álbum On An Island em 2006, a música voltou ao repertório. Essa versão foi composta com a letra e depois os vocais de apoio repetindo o refrão "sing to me, sing to me"; então uma versão blues do solo de guitarra, com a duração próxima à original (essa versão durou por volta dos 7 minutos). Uma performance no Royal Albert Hall está inclusa no novo DVD do Gilmour, Remember That Night.

Gilmour revelou no programa do Johnnie Walker da BBC Radio 2 em 2004 que ele tentou fazer com que a música fosse inclusa na coletânea Echoes: The Best Of Pink Floyd (2001), mas ela não entrou na seleção, e o álbum Atom Heart Mother passou sem representação nessa coletânea. Fat Old Sun é talvez, melhor descrita como "pastoral", uma alusão à vida no campo (como outras músicas do Pink Floyd foram, como Grantchester Meadows do Ummagumma), com uma letra e melodia gentil, porém incisiva.

(Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre)



Fat Old Sun
(David Gilmour)

When the fat old sun in the sky is falling
Summer evenin' birds are calling
Summer's thunder time of year The sound of music in my ears
Distant bells, new mown grass Smells so sweet By the river holding hands
Roll me up and lay me down
And if you sit don't make a sound
Pick your feet up off the ground
And if you hear as the warm night falls
The silver sound from a time so strange
Sing to me, sing to me
When that fat old sun in the sky is falling
Summer evenin' birds are calling Children's laughter in my ears
The last sunlight disappears
And if you sit don't make a sound
Pick your feet up off the ground
And if you hear as the warm night falls
The silver sound from a time so strange
Sing to me, sing to me
When that fat old sun in the sky is falling

Ceci n'est pas une pipe

Ceci n'est pas une pipe
Renè Magritte

Joy

Joy
Erik Drooker